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Suso Moinhos: "O esperanto nom é a língua de nengum povo, pero si veicula umha cultura própia&q


Nacim em Vigo em 1970 e estudei Filologia Galega na Universidade de Santiago de Compostela, em cujo Instituto de Idiomas dei aulas de esperanto. Em 2017 tirei o curso de pós-graduaçom de Estudos de Interlinguística da Universidade Adam Mickiewicz em Poznań, Polónia. Escrevo em esperanto e alguns poemas meus tenhem recebido prémios em concursos e aparecido nas revistas Esperanto, Beletra Almanako, Rio Esperantista, Zagreba Esperantisto, Caja de Resistencia (traduzidos para o espanhol), Tlön (traduzidos para o português) bem como na antologia Nova mondo en niaj koroj (2016). O meu primeiro poemário intitula-se Laminarioj (2016) e foi publicado na editora eslovaca Espero. Traduzim Memorias dun neno labrego para o esperanto (Mondial, 2017). Desde 2015 fago parte da equipa de redatores da revista literária Beletra Almanako e redijo o módulo de literatura do curso em linha RITE para professores de esperanto.

Fotografía: Roberto Alarcón

Texto: Web persoal do autor

 

- Por que decide estudar esperanto? Como xorde a oportunidade de estudar esta lingua?

Sempre gostei de línguas, e um dia, nos anos 80, vim um programa de televisom em que entrevistavam uns esperantistas, que no final dêrom um endereço para aprender o idioma. Foi assi como comecei, com um curso por correspondência desde Alacant, quando ainda nom havia Internet ou apps. Despois contatei o grupo esperantista de Vigo, Paco kaj Amo, hoje desaparecido, que se reunia no Círculo Mercantil, e assi fum melhorando o nível de língua. Lembro que naquela altura tamém comecei a ouvir rádios em esperanto e ler revistas e livros, e a participar em encontros internacionais. Desde entom nom deixei de falá-lo. Em Setembro deste ano acabei um curso de pós-graduaçom de interlinguística na Universidade Adam Mickiewicz de Poznań, Polónia, que dura três anos e tem conteúdos comparáveis aos que poderia ter umha filologia do esperanto.

- Foi un proceso duro a tradución de Memorias dun neno labrego ó esperanto?

Eu nom diria que foi duro, pero foi longo. No entanto, tamém foi mui agradável. Em 2010 pedim-lhe a Xosé Neira Vilas a sua autorizaçom para publicar um capítulo de Memorias… na revista literária Beletra Almanako, de cujo conselho de redaçom fago parte atualmente. El aceitou entusiasmado, e propujo-me traduzir o livro todo. Porém, eu precissava me preparar para fazer umha traduçom literária para o esperanto. Isso levou-me a estudar durante muito tempo os trabalhos de tradutores de renome, comparando, sempre que foi possível, os originais com os textos-alvo.

Mais tarde empreendim a traduçom, e quando a finalicei, quigem que o livro fosse revisado antes de ir ao prelo. Seguindo os conselhos de Nora Caragea, tradutora alemá de literatura infantil e juvenil para o esperanto, procurei leitores de provas cujas línguas maternas pertencessem a (sub)famílias linguísticas diferentes. E conseguim dous excecionais: o soriano-galego Antonio Valén, filólogo, lexicógrafo e poeta em esperanto, grande amigo meu, e o sueco Sten Johansson, um dos melhores prosistas atuais nessa língua. Por último, o editor em Nova Iorque, Ulrich Becker, deu umha última vista de olhos ao manuscrito antes de ser publicado.

No entanto, ainda tivemos que esperar um pouco mais. Para o livro ter melhor acolhida, solicitamos à Associaçom Universal de Esperanto a inclusom de Memoraĵoj de kampara knabo na Série Oriente-Ocidente. Trata-se dumha distinçom que reconhece a qualidade da traduçom e a importáncia da obra. Nela estám desde Tagore e os clássicos da literatura chinesa até Shakespeare e Szymborska. Agora a literatura galega tamém está representada. Como a Série Oriente-Ocidente foi criada segundo um programa da UNESCO para promover o interculturalismo, um exemplar de Memoraĵoj de kampara knabo em esperanto foi entregue à biblioteca dessa organizaçom internacional.

- Polo que teño entendido, isto foi unha débeda que tiña co autor…

Foi, efetivamente. Neira Vilas telefonava-me com certa frequência para saber como iam as cousas. Queria que "a obrinha", como el lhe chamava, fosse traduzida para o maior número de línguas possível. Eu prometim-lhe que a terminaria e a publicaria.

Presenta da obra no festival ARKONES (Polonia). (Fotografía: Przemyslaw Wierzbowski)

- A obra inclúe un interesante limiar de Iolanda Galanes…

Isso foi umha grande sorte. A professora Galanes acompanhou a traduçom de Memorias… na sua fase final e aceitou escrever o limiar, a apresentaçom do livro a leitores de qualquer lugar do mundo. Ela é sem dúvida a maior especialista na escrita e traduçom de Memorias… Quer ela, quer o resto do o grupo Bitraga da Universidade de Vigo, acolhêrom com interesse a traduçom.

- Cal é a razón pola que recuperan as ilustracións de Díaz Pardo para a edición deste libro?

Ao longo das diversas edições em galego e das traduções para outras línguas, as ilustrações de Memorias… fôrom mudando. Pero as mais reproduzidas, as clássicas, som as de Isaac Díaz Pardo. Som absolutamente icónicas, estám mui entranhadas no livro. Tamém estám cheas de força emotiva, com esses traços decididos, às vezes tam significativos na sua singeleza, como a que mostra duas maos entrelaçadas. Creo que a obra de Isaac Díaz Pardo é essencial na cultura galega contemporánea, e à vez, como toda a arte boa, tem caráter universal. Qualquer leitor ideal do livro que eu pudesse imaginar (e que no meu caso som de carne e osso: os meus amigos Huan Yinbao, da China, ou Indu, do Nepal, ou Enikő, da Hungria) entenderia a história e tamém as estampas. Os herdeiros de Isaac Díaz Pardo compreendêrom-no desde o primeiro momento e cedêrom os dereitos generosamente. Tamém contamos com o grande interesse e amabilidade da Fundación Xosé Neira Vilas e do seu presidente, Luís Reimóndez, que nos fornecérom fotos da vida do autor e cedêrom os dereitos para a publicaçom do livro, consoante os desejos do autor.

Ilustración de Balbino, protagonista da novela, por Díaz Pardo.

- Como definiría a situación do esperanto como lingua?

Talvez antes de falar do esperanto conviria fazer um exercício de eliminaçom de prejuízos linguísticos. Às vezes ouço pessoas com opiniões infundadas que já o declaram defunto, ou entom que pensam que foi criado para eliminar as línguas do mundo. E na verdade o esperanto é umha língua viva. Ou seja, hai gente que ri, chora, canta, escreve, ama ou trabalha em esperanto, como em qualquer outra língua. E leva sendo assi desde hai 130 anos. Foi criado com a intençom de funcionar como umha segunda língua neutral, para a gente se entender em pé de igualdade, sem recorrer a línguas de potências económicas, pero pouco despois começárom a acontecer cousas que ninguém previra. Por exemplo, a transmissom entre gerações, o que deu lugar à existência desde bem cedo de falantes nativos de esperanto. Hoje é difícil calcular quantos esperantófonos hai no mundo, pero deve ser um número semelhante ao de falantes de línguas europeas pouco estendidas. Ora bem, trata-se dumha língua sem um território determinado, como o cigano ou o yiddish (ou, melhor dito, umha língua cujo território é todo o planeta). Porém, à diferença destes, o esperanto nom é a língua de nengum povo, pero si veicula umha cultura própia. Um dos exemplos mais relevantes dessa cultura é a literatura em esperanto, que naceu com a língua, ou seja, quando na Galiza estávamos em pleno Rexurdimento, de tal maneira que ocupa o mesmo espaço cronológico que a literatura galega moderna. Por outra parte, as traduções doutras línguas para o esperanto sempre tivérom muita importáncia: os grandes modelos estilísticos sempre fôrom excelentes traduções.

O esperanto nom é oficial em ningures, nem nunca foi, ainda que isto nom impede que o seu ensino tenha caráter oficial em instituições públicas de vários países. Neste ano, 2017, a UNESCO celebra os cem anos do passamento do inventor do esperanto, Lazaro Ludoviko Zamenhof.

Neste 2017, cumpríronse cen anos da morte do creador do esperanto. (Fonte: radiosefarad.com)

- Como coñecedor da lingua e participante activo en iniciativas literarias, imaxino que coñece a perfección o sistema literario e artístico do esperanto. Pode recomendar algúns títulos de obras en esperanto?

Como outros sistemas literários, o do esperanto está em constante renovaçom, assi que nom é fácil estar ao dia. Ora bem, se nos centrarmos nos últimos anos, teríamos que salientar alguns nomes. Anteriormente já mencionei o romancista sueco Sten Johansson, cuja obra mais conhecida talvez seja Marina (2013), e que acaba de publicar Da sombra do tempo (El ombro de l' tempo, 2017). Spomenka Štimec, croata, conhecida por livros como Diário noturno de guerra (Kroata milita noktlibro, 1993, traduzido para o japonês, o alemám e o francês), publicou Tilla em 2002. O australiano Trevor Steele é outra das figuras atuais, com Nengumha bolboreta (Neniu ajn papilio, 2000) ou Amor entre ruínas (Amo inter ruinoj, 2016). E um dos últimos best-sellers é, sem dúvida, Eu ligava as estrelas aos sonhos (Mi stelojn jungis al revado, 2016) do russo Mikaelo Bronŝtejn. Entre os poetas atuais destacam o chinês Mao Zifu, com Cantos de Anteo (Kantoj de Anteo, 2002), o espanhol Jorge Camacho, com Como umha queimadura (Brulvunde, 2017), ou o italiano Nicola Ruggiero, com O canto do corvo (La kanto de l' korvo, 2014).

Se recuarmos algo máis no tempo, iremos encontrar autores com obras mui interessantes, como Hilda Dresen, importante tradutora e poeta estoniana, com Natureza do Norte (Norda naturo, 1967), o húngaro Lajos Tárkony, que deixou entrever a sua homossexualidade no poemário Soifo (Sede, 1964), as novelas do seu conterráneo Ferenc Szilágyi, como a coleçom Já canta o galo! (Koko krias jam!, 1955), a larga obra da inglesa Marjorie Boulton, que abrange vários géneros literários e inclui, por exemplo, a coleçom de peças de teatro Mulher na fronteira (Virino ĉe la landlimo, 1959), ou os textos dum grande renovador da poesia, o italiano Mauro Nervi, que publicou As torres da capital (La turoj de l' ĉefurbo, 1978). Até agora fôrom dous os candidatos apresentados ao Prémio Nobel de Literatura, ambos grandes poetas: o escocês William Auld (1924-2006) e o islandês Baldur Ragnarsson (1930-).

Penso tamém que hai que mencionar os nomes de escritoras injustamente esquecidas, das que já ninguém fala e quase ninguém falou quando publicárom, e cuja obra merece ser valorizada. É o caso da grega Despina Patrinu (1930-1993) ou da iugoslava Vesna Skaljer-Race (1911-2000). Ou entom o daquela prometedora e jovem poeta, a albanesa Enkela Xhamaj (1977-). As causas deste desleixo hai que procurá-las na concepçom da literatura como um campo predominantemente masculino, o que torna invisíveis determinadas produções e as suas autoras. A isto hai que engadir a autoediçom, arma de dous gumes, soluçom e problema ao mesmo tempo, que permite publicar livremente pero nom favorece o espalhamento da obra. Nos estudos sobre a literatura em esperanto fica muito por pesquisar, por investigar, por colocar em perspetiva.

- Para rematar. Ten algún proxecto de tradución ou de creación literaria en marcha do que nos poida adiantar algo?

Na revista Beletra Almanako iremos publicar em breve um relato de Carlos Casares, antes de que acabe o seu ano: "A rapaza do circo", de Vento ferido, na minha traduçom. Hai um tempo figem o mesmo com três textos mui bons de A ferida, da corunhesa Begoña Paz. Hai ainda outro projeto no horizonte, relacionado co extraordinário momento que estamos a viver aquí na poesia: umha antologia em esperanto da produçom poética galega desde 2000.

Qualquer outro projeto maior de traduçom teria que passar quase necessariamente pola renúncia dos autores a cobrarem os royalties. As editoras em línguas com (relativamente) poucos falantes e sem apoio institucional nom sempre podem enfrentar o pagamento aos autores dumha percentage correspondente dos livros vendidos, e aspiram apenas a cobrir as despesas. Esta é a verdadeira barreira, da que nunca se fala, que limita o número de traduções de literatura atual para o esperanto, e mui possivelmente para outras línguas, como o romanholo, o arromeno ou o aragonês, por citar algumhas europeas. Nesses casos, as traduções servem unicamente para espalhar a obra do autor, nom para o benefício económico.

 

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